domingo, 21 de agosto de 2011

Sobras de uma tarde, quando adormece o sol



Vinha.
Depois recuava.
Enfurecida com tudo
também enfurecida com nada.
Por vezes levava a vida
E sempre com ela brincava.
Ouvi mesmo dizer,
Que dali provinha toda forma de ser.
Estava, claro, a adorar o mar.

Mas então,
Se a vida vinha do mar,
Haveria algo mais estúpido,
Do que adorar o céu?

Alguém gritou:
-Claro,
Antes do mar, quem havia?
Quem criou o mar?

...é evidente, isso não sei,
Quem foi o primeiro,
O ovo ou a galinha, quem criou
Quem criou o mar,
Quem criou deus,
Nem tantas outras coisas.

Quem disse que deus vinha do céu?
Posídon não vinha do fundo dos oceanos?

Então, molhei os pés.
Com o frio da agua e
Porque os anos a pensar,
Já eram muitos,
Acabei por mijar nos calções.

A vida continua mesmo quando
A incontinência acontece,
Até porque,
Ninguém repara
Num velho
Que tenta afogar as dores,
Sonhando
Com o outro lado do mar.

Carlos Tronco
Almograve
Agosto 2011

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Cascas de nozes



Cascas de nozes

Era água ou mar?
Sombra de falésia ou sonho?
Chovia.
Chovia a felicidade de um instante.
Sentia a tua presença feminina
No mais profundo
Da minha loucura.
Bálsamo,
Que sara as duvidas.
Bálsamo.
O guarda-chuva teimava em revoltar-se.
Contra o tempo, contra o vento.
Fechado tornava-se engraçado:
O sorriso adornava-lhe os lábios
Enquanto as falésias
Se iam desmoronando.
Até na pedra mais dura,
Há pontos frágeis.
No humano é o coração
Que cede o primeiro.
Há quem venda lágrimas alheias.
Outros oferecem apenas
Os próprios sonhos.
Então disse:
-Sardão não é gafanhoto!

Carlos Tronco
Cabo Sardão
Julho 2011