sábado, 21 de agosto de 2010

ENCONTROS



Não são abraços nem beijos, a distância não permite
Mas algures em um velho peito, um coração em palpite
A emoção foi violenta, ia-me dando uma coisa
Deixastes dos astros o brilho, das estrelas os sorrisos
É bom saber, nesta vida - bem preciso - ter amigos!
Para navegar em mar alto e depois deixar na lousa.

Palavras e muitas vezes, sem o mínimo sentido.
Pensamentos, sonhos, ventos; até perco o juízo;
Mas procuro, simplesmente, um caminho, uma picada,
Que me leve mais adiante e se possível mais alto
Quero voar um dia, no dia do grande salto
Admirar na planície, a fragilidade da vida.

Ver, de um só olhar, do horizonte a verdura
Dos belos campos de trigo e no meio a formosura
O verde da esperança, pois com trigo não há fomes,
O vermelho das papoilas, violência da paixão
Recordar uma vida cheia e no meio do coração
Sentir todos os amigos, recordar os meus amores.

E aí dizer: oh Deus! A minha vida foi boa.
Dá-me mais alguns aninhos, não faças coisas à toa.
Falta-me ainda confessar, ainda não disse tudo:
O meu primeiro amor, encontrei-o num altar
Era uma virgem de barro e continuo a procurar
O que a virgem não me deu, quando ainda era miúdo!

Carlos Tronco
Évora
24/02/04

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

"Estrela da Galicia"




Estrela da Galiza

Esperava que caísse a noite.
Que sobre o mar caísse,
O brilho das estrelas.
Quando o mar mais negro
Brilhava só de vê-las,
Aí sim, me aproximava da areia.

Que fazia ali? Nadar não sabia.
A água gelada, o banho proibia,
Se o mar está bravo, não há
Como vencer,
Sentado na praia,
Tentava aprender.

Olhava as crianças, construir castelos;
Castelos de areia, de vários modelos,
Atitude simples, de génio primário:
Sem Deus por modelo,
Nem santo sudário.
Erguiam castelos de sonhos, meninos
De areia molhada e de grãos mui finos.

Algures se empregava, o aço e cimento
Se faziam torres,
Prisões para os homens.
Felizes como peixes,
Com o anzol na goela;
Ou burros de cigano,
Presos a uma argola.

Carlos Tronco
Muros
02/08/10

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Santiago Mata-mouros




Depois de um ano de incertezas profissionais, aqui estava de novo, em Galiza, sentado frente à ria de Noia e Muros, a escassos quilómetros de Portosin. Tinham passado 13 anos. A minha filha mais velha tem agora doze, e há treze anos tinha lutado com sucesso para obter a qualificação de “professeur certifié” na área da mecânica aplicada. Desde então, exerci em vários estabelecimentos de ensino técnico e superiores, uns anos com mais facilidade, outros com mais dificuldades, mas em geral tentando transmitir aos alunos, um pouco do meu conhecimento técnico adquirido não somente nos bancos da escola como também em varias empresas privadas de quem fui empregado quando mais jovem. Como o tempo passa! E nada muda.

Sempre a mesma promessa de felicidade da parte de quem nos quer submissos, governar. Sempre as mesmas palavras de ordem para “papanatas”:
-Travaillez plus pour gagner plus!

Uma porra! …assim vão enchendo os bolsos e alimentando o sistema bancário helvético, enquanto a massa anónima dos trabalhadores, vai perdendo fé e esperança. Vai-se admitindo que ao fim e ao cabo, são todos iguais, vai-se admitindo a necessidade de um poder forte, “fazedor” de milagres como no filme “O botas e o Galego” que há muito já quase esquecestes. Vai-se contentando com histórias de milagres, de meigas e fadas e sofrendo a incultura ultra securitária de quem apenas defende os interesses da sua casta, senão os próprios interesses. Assim nasce uma nação próspera para alguns e miséria e maldição para quase todos.

- E porque é que o povo não se revolta, perguntareis?
Porque o principal dirigente, se afixa com beldades com quem a maioria da população masculina desejaria copular. Em uma palavra, todo um povo financiando as putas da República com a impressão de, por isso, beneficiar também do bordel, bordel onde apenas os outros comem.

-E quando o bordel por telepatia já não chegar para contentar o povo?
Haverá sempre um papa, um rabi, um mollah para mostrar o caminho do paraíso, para palrar de felicidade, só que, os milagres, nem em Fátima nem em Lourdes acontecem todos os dias e dar a mama à religião custa cada dia mais caro. Caro tão ou mais que os seus compadres militares. Quanto não custa hoje em dia criar uma guerrita para entusiasmar o Zé-povinho?

Alguém se lembra da heróica luta do povo afegani contra o invasor soviético? Alguém se lembra do principal aliado do “ocidente livre” , financiado e treinado por fundos obscuros, que lhe permitiu adquirir, por exemplo mísseis Stinger capazes de abater um helicóptero como uma caçadeira abate uma perdiz ou um cajado duas lebres? Já esquecestes claro; que um Deus vos perdoe. Já esquecestes, mesmo se todos os dias vos falam no heróico combate contra o mal absoluto, da santa irmandade ocidental...milagres hoje em dia custam caro e santos, que como Francisco faziam votos de pobreza, já os não há. Então em vez de investir no bem comum de toda uma população, isto é, em serviços públicos, ao contrário, pilha-se o bem comum de uma nação. Os larápios, deixam de ser quem liquida empresas e despede trabalhadores, mas vêm a ser quem alimenta toda esta máfia com o seu suor, nas fábricas, nos campos, em todo recinto onde trabalho é lei. Fecham-se hospitais, despedem-se professores, aumenta-se a idade legal de aposentamento. Nivela-se pelo mais baixo e inventa-se uma palavra de ordem que tudo justifica, até as maiores imbecilidades: Crise!!!

Haja “tevê”e futebol e nunca mais se repetira 1789! Quantas mais forem as “Bastilhas” a tomar, menos haverá de “Sans-cullottes” para o fazerem.
Se o povo desde sempre parece andar de saia, se já não se sabe quem ainda veste calças, parece cada dia mais óbvio que o povo já não tem tomates.

Este ano o 25 de Julho calhava um domingo. É Ano Santo. Fui-me a caminho de Santiago. O polvo à feira estava estupendo e o albariño ainda melhor.

Carlos Tronco
Linteiros- Miñortos
27-07-10

A mãe foi...




A mãe foi...

A mãe foi!
Que frase tão triste.
Não há que fazer!
Que dizer?
Despiste a alma
O termo final
A mãe foi-se e tu
Ferido animal
Lambes as feridas
De um chicote divino.
Que pensar?
A mãe foi-se...
O próximo sou eu!
Cristão, Maometano
Ou mesmo Judeu
Não há quem nos valha
Quando tal evento
Mete um termo à vida
Para até o tempo

Quando vai a mãe,
Quem nos da alento?

Carlos Tronco
Noia
01/08/10